terça-feira, junho 19, 2007

quarta-feira, junho 13, 2007

quarta-feira, maio 30, 2007

domingo, maio 20, 2007

quarta-feira, maio 09, 2007

segunda-feira, abril 30, 2007

domingo, abril 29, 2007

segunda-feira, abril 23, 2007

domingo, abril 15, 2007

segunda-feira, abril 09, 2007



Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços,

O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.


Sophia de Mello Breyner Andresen

Obra Poética I

Caminho

quinta-feira, março 29, 2007

Now



Cada minuto é apenas um momento musical, sem memória. E a saudade não vem de longe, é como uma cor outonal na paisagem e muda como um poente... Não há futuro. Tudo é paisagem para os nossos olhos calmos e líricos. Sentimos a intimidade das coisas impossíveis.


Cristovam Pavia - 1933/1968

segunda-feira, março 26, 2007

Confiança



O que é
bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova


Miguel Torga

sábado, março 24, 2007

quarta-feira, março 21, 2007

domingo, março 18, 2007

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Iris





In reverie they emulate the noble mood
Of giant sphinxes stretched in depths of solitude
Who seem to slumber in a never-ending dream;
Within their fertile loins a sparkling magic lies;
Finer than any sand are dusts of gold that gleam,
Vague starpoints, in the mystic iris of their eyes.


Charles Baudelaire

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Spiral Staircase




Because I do not hope to turn again
Because I do not hope
Because I do not hope to turn
Desiring this man's gift and that man's scope
I no longer strive to strive towards such things
(Why should the agèd eagle stretch its wings?)
Why should I mourn
The vanished power of the usual reign?

Because I do not hope to know
The infirm glory of the positive hour
Because I do not think
Because I know I shall not know
The one veritable transitory power
Because I cannot drink
There, where trees flower, and springs flow, for there is nothing again

Because I know that time is always time
And place is always and only place
And what is actual is actual only for one time
And only for one place
I rejoice that things are as they are and
I renounce the blessèd face
And renounce the voice
Because I cannot hope to turn again



T. S. Eliot “Ash Wednesday”

segunda-feira, janeiro 29, 2007

O tempo



Mas, devagar, o tempo transformava tudo em tempo. Essa é a explicação da eternidade. Devagar, o tempo transforma tudo em tempo. O ódio transforma-se em tempo, o amor tranforma-se em tempo, a dor transforma-se em tempo. Os assuntos que julgámos mais profundos, mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis, transformam-se devagar em tempo. Por si só o tempo não é nada. A idade de nada é nada. A eternidade não existe e, no entanto a eternidade existe.

José Luís Peixoto, "Uma Casa na Escuridão"

quarta-feira, janeiro 24, 2007

domingo, janeiro 07, 2007

Leaf



terça-feira, janeiro 02, 2007

Dá-me a tua mão




Dá-me a tua mão.

Deixa que a minha solidão
prolongue mais a tua
— para aqui os dois de mãos dadas
nas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua.

Dá-me a tua mão, companheira,
até o Abismo da Ternura Derradeira.


José Gomes Ferreira

sábado, dezembro 30, 2006

sábado, dezembro 23, 2006

Dia de Natal


É dia de meditar sobre a nossa existência,

tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,

como se de anjos fosse,

numa toada doce,

de violas e banjos,

Entoa gravemente um hino ao Criador.

E mal se extinguem os clamores plangentes,

a voz do locutor

anuncia o melhor dos detergentes.



De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu

e as vozes crescem num fervor patético.

(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus nasceu?

Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso antimagnético.)



António Gedeão

sexta-feira, dezembro 22, 2006

A uma cerejeira em flor


Acordar
,
ser na manhã de abril

a brancura desta cerejeira;
arder das folhas à raiz,
dar versos ou florir desta maneira
Abrir os braços, acolher nos ramos
o vento, a luz ou o que quer que seja;

sentir o tempo, fibra a fibra,
a tecer o coração de uma cereja.



Eugénio de Andrade


Entre mim e o meu silêncio

gritos de
cores estrondosas

e
magias recortadas dos sonhos

que acontecem naturalmente.




José Luís Peixoto

sexta-feira, dezembro 15, 2006

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Ausência


A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Conheço o sal que resta em minha mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.

A todo o sal conheço que é só teu,
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.


Jorge de Sena

quinta-feira, dezembro 07, 2006


"A experiência nunca é limitada e nunca é completa; ela é uma imensa sensibilidade, uma espécie de vasta teia de aranha, da mais fina seda, suspensa no quarto da nossa consciência, apanhando qualquer partícula do ar em seu tecido. É a própria atmosfera da mente; e quando a mente é imaginativa – muito mais quando acontece ela ser a mente de um génio – ela leva para si mesma os mais ténues vestígios de vida, ela converte as próprias pulsações do ar em revelações."


Henry James in The Art of Fiction

quarta-feira, novembro 29, 2006

Le Chat




C'est l'esprit familier du lieu ;
Il juge, il préside, il inspire
Toutes choses dans son empire ;
Peut-être est-il fée, est-il dieu ?

Je vois avec étonnement
Le feu de ses prunelles pâles,
Clairs fanaux, vivantes opales,
Qui me contemplent fixement.

Charles Baudelaire

Sê tu a palavra


Poupar o coração
é permitir à morte
coroar-se de alegria.
Morre
de ter ousado
na água amar o fogo.


Eugénio de Andrade

sexta-feira, novembro 24, 2006

Todo o tempo é de poesia

Todo o tempo é de poesia
Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.
Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia
Todo o tempo é de poesia
Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qu'a amar se consagram.
Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.
Todo o tempo é de poesia.
Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão

sexta-feira, novembro 17, 2006

Se eu pudesse trincar a terra toda


Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar
E se a terra fosse uma coisa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...

Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...


Alberto Caeiro

quarta-feira, novembro 15, 2006

O Sorriso



Creio que foi o sorriso,


o sorriso foi quem abriu a porta.

Era um sorriso com muita luz

lá dentro, apetecia

entrar nele, tirar a roupa, ficar

nu dentro daquele sorriso.

Correr, navegar, morrer naquele sorriso.



Eugénio de Andrade

segunda-feira, novembro 13, 2006

quinta-feira, novembro 09, 2006

Me gusta cuando callas...




Me gusta cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.


Me gusta cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
Déjame que me calle con el silencio tuyo.

Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.



Pablo Neruda, Veinte Poemas de Amor y una Canción Desesperada

quarta-feira, novembro 08, 2006

terça-feira, novembro 07, 2006

Uma música que seja















Uma música que comece sem começo e termine sem fim. Uma música que seja como o som do vento numa enorme harpa plantada no deserto. Uma música que seja como a nota lancinante deixada no ar por um pássaro que morre. Uma música que seja como o som dos altos ramos das grandes árvores vergastadas pelos temporais. Uma música que seja como o ponto de reunião de muitas vozes em busca de uma harmonia nova. Uma música que seja como o voo de uma gaivota numa aurora de novos sons...

Vinicius de Moraes

segunda-feira, novembro 06, 2006

O mar olha por ti

Sorriso interior

O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto,
Leva consigo esse brasão augusto
Do grande amor, da nobre fé tranquila.

Os abismos carnais da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em redor oscila.

Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe essa glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.

O ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!



João da Cruz e Sousa (poeta simbolista brasileiro 1862-1898)